domingo, 23 de dezembro de 2012
Mare Tranquillitatis
(Meus anos de solidão). Já não me sinto só e essas palavras tornaram-se
vazias para o entendimento de meu cosmos particular traduzido sempre através da
idiossincrasia de meu léxico que tenta aproximar a substância da linguagem. Meus anos de solidão ficaram num mundo
outro onde o tempo se conta e é esse mesmo que joguei ao vento. Sei agora que
nunca fui só. O amor sempre me acompanhou e lhe digo agora que quando a escolha
é o amor nunca se está enganado. Meus
anos de solidão aproximaram-me intimamente dessa verdade única e dela depende
minha vida. Alguns amei com demasiada pressa, outros com cega determinação, mas
no final pouco importa. O tanto que sou sempre esteve ali, óbvio como o ar. As
estirpes condenadas a cem anos de solidão não tem uma segunda oportunidade na
terra e sou também uma Buendía que carrega nas entranhas o fardo do amor, da
memória e da atemporalidade. O amor é eterno e a fome de amar é ancestral. Sou
da linhagem insondável que ama sem medir conseqüências, pois é essa mesmo a
profecia: o amor será o começo, o meio e o fim; substância. Os Josés ficaram
loucos porque tentaram achar a causa primeira da Vida e para todas as suas
perguntas a resposta era a mesma. Apressados em extrair o ouro através da
alquimia, esqueceram-se que os tesouros todos estão, antes, no coração. O
Universo, cansado de responder em vão, quebrou o tempo e os fez guardar seus
segredos todos, o peso de seus intermináveis ciclos e leis em um único dia que
se estendia interminável, pois já não sabiam esquecer. Sentiram-se sós. Cem anos de solidão foi o que ensinou
para eles que essas coisas todas podem pegar emprestado o segundo que resta:
eram já eternos. Sou já Remédios, que ascende aos céus elevando a poesia
cósmica e vaticinando a herança genética que carrega nas entranhas os fardos da
Vida. Meus anos de solidão, dias-larvas,
horas-crisálidas prenhes de cores donde brotam falenas-luz. Sou já essa miríade embriagada de sonhos de amor que
dançam através dos tempos.
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